Renovação na Esperança
Após a turbulência e a destruição de uma tragédia, catástrofe ou fracasso, emerge a esperança da renovação. A reconstrução quase sempre eleva não apenas o padrão material, mas também o nível de consciência do ser humano. Essa esperança, quando alicerçada na fé, no trabalho, no amor e no perdão, torna-se uma poderosa força de ânimo e vontade. Contudo, se for uma esperança passiva, sobrepujada pela mera expectativa, fatalmente levará à desilusão. Viver sem esperança é como caminhar sem rumo, destino ou guia. A esperança é a nossa estrela-guia.
No balanço da vida, somos frequentemente atormentados pela própria consciência, que reflete nossas atitudes contrárias ao seu fluxo natural. Nesses momentos, buscamos refúgio na espiritualidade por meio dos recursos que nos parecem mais eficazes, como a prece ou os rituais sagrados. Alicerçamos, assim, a esperança numa fé sustentada pelos pilares da ação em nosso caminho espiritual – o autoflagelo no caminho do faquir, a emotividade no caminho do monge, a racionalidade no caminho do iogue ou a paz intuitiva no percurso da autoconsciência. Cada um busca a solução espiritual pelos meios que conhece e que fazem parte de seu entendimento.
O verdadeiro sentido da esperança, no entanto, consiste numa espera confiante. Essa confiança deve estar alicerçada na fé, no trabalho, no amor, no perdão e, sobretudo, na resignação diante do merecimento e do tempo certo da resposta – que não deve ser o da nossa expectativa. Nessa perspectiva, a esperança assume uma conotação mística, e é justo crer que o Universo retribuirá nosso esforço criativo. Contudo, essa esperança, tal como a fé, deve ser uma espera ativa e serena, desprovida de ansiedade.
A Harmonia nos Opostos
Embora a vida ainda nos pareça um mistério, sua complexidade se simplifica ao nos pedir apenas o mínimo esforço e obediência aos seus ditames. Trata-se de uma praticidade baseada em cuidados com o corpo e a alma. O corpo, quando vitalizado, é o veículo para a manifestação do espírito encarnado; a alma, por sua vez, é o campo de direcionamento, contendo todos os sensos e atributos para essa jornada. É na alma que trazemos, desde o nascimento, todos os recursos da inteligência suprema, a fim de que possamos desempenhar com máxima assertividade e discernimento nosso plano individual de evolução espiritual.
Há momentos em que a vida parece nos impor duras lições, cujas razões nos escapam. Nesses instantes, ela age como uma mestra, corrigindo desvios de rota através do confronto entre opostos. Esses extremos não pedem combate, mas sim reconciliação. Todos os contrastes da existência convergem para um único ponto, a consciência, e é por meio deles que ela se expande e se torna mais perceptiva. Portanto, sempre que hesitamos ou atrasamos o plano traçado para nós, a vida nos impulsiona para frente. Contudo, esses abalos não são atos de crueldade; são, na verdade, manifestações do amor infinito do Criador, sinalizando a direção e o caminho a ser trilhado.
Todavia, apesar de sermos impulsionados a evoluir por agentes externos, são eles apenas os meios que nós mesmos escolhemos – seja ao permitir o fluir da vida, seja ao bloqueá-la e, assim, atrair eventos corretivos. Nossos aprendizados resultam, basicamente, do estudo, da observação e da comparação dentro da dualidade intrínseca à vida – um processo ao qual nada escapa, por mais que tentemos fugir. A medida certa que estabelece o equilíbrio e a harmonia, no entanto, somos nós mesmos que a encontramos ao balancear nossas atitudes e ações – entre o falar, o calar e o escutar; entre o agir e o esperar; o trabalhar e o descansar; o receber e o dar, e em tantas outras dualidades.
O Resultado Desejado e o Que a Vida Oferece
Movidos pelo egocentrismo, insistimos em exercer controle sobre tudo, inclusive sobre o próprio fluxo da vida. Nesse anseio, esperamos que ela nos atenda na exata medida de nossas expectativas. Contudo, nossos enganos apenas retardam a evolução e aprofundam o sofrimento. Lutar contra essa corrente poderosa resulta, invariavelmente, em perdas, fracassos, acidentes e doenças – cujas causas ignoramos enquanto focamos apenas nos efeitos. O hábito de revisar nossas atitudes para identificar a raiz de um resultado, positivo ou negativo, é raro. E quando o desfecho frustra nossas expectativas, a resistência em olhar para dentro aumenta, pois um exame de consciência profundo pode ser doloroso.
A Prudência no Balanço da Dualidade
A prudência é o bom senso que nos dá a medida adequada para cada escolha. Ela guia a nova atitude, gerando pensamento, instigando emoção e impulsionando a ação. Na ação prudente, encontramos o equilíbrio necessário para que o pêndulo da consciência se alinhe cada vez mais ao centro, evitando os extremos reativos. Nesse balanço da dualidade, dor e prazer são os reflexos de cada lado, e nós escolhemos qual deles experimentar. No entanto, o excesso de ambos não é o ideal. O prazer nos ensina a evitar a dor, enquanto a dor nos instiga a buscar o prazer. Existe, porém, um ponto central onde o pêndulo encontra a paz – um estado de plenitude transcendente, difícil de explicar racionalmente, que não é nem prazer, nem dor. É um êxtase não emocional ou de qualquer outra natureza conhecida, sentido no coração compassivo como um estado de profunda pacificação mental. Nas oscilações da consciência, deparamo-nos com uma escolha – reagir pelo instinto ou responder seguindo a intuição. Ao optarmos pelo caminho da intuição, gradualmente alcançamos um novo estado. Nesse patamar, a dor se restringe ao âmbito inevitável do corpo físico, e o prazer se eleva, transmutando-se do físico para uma forma de paz prazerosa.
O Roteiro da Evolução Autoconsciente
No íntimo de cada um, no seio da alma, há um roteiro escrito em caracteres de luz, indicando o caminho da evolução autoconsciente. O propósito que assumimos ao nascer, ou que nos foi imposto pelo carma, traçou nosso destino e deverá ser cumprido, seja agora ou daqui a mil anos. O tempo é uma escolha nossa, no exercício do livre-arbítrio. Entretanto, a vida nos concede um limite de tolerância; ultrapassado esse limite, ela nos impulsiona pela dor para nos lembrar de nosso propósito evolutivo.
Assim, nossa jornada se desenrola na arte de navegar a dualidade com a bússola da prudência. A esperança, então, amadurece – deixa de ser a expectativa por um resultado e se torna a fé ativa de que cada passo, cada escolha entre o excesso e a moderação, nos alinha com nosso propósito maior. Ao compreendermos que os desafios e os “choques” da vida são, na verdade, o amor do Criador nos guiando de volta ao centro, descobrimos que o verdadeiro bem viver não é a ausência de dor ou a busca incessante pelo prazer. É, enfim, a serena e plena realização do roteiro luminoso que nossa própria alma escolheu trilhar, no tempo e na harmonia do fluxo universal.