A corrupção que se vê é o ato materializado do ser já corrompido. Primeiro ocorre a corrupção interior dos valores, da moral, da honestidade, da ética; o ser se move então na direção da sua materialização atraindo ou sendo atraído para onde estão os mesmos que lhe serão companheiros, porque, se a corrupção interior depende só de si mesmo, a externa depende de semelhantes para se materializar.
O ser corrompido perde a noção dos valores e da verdade e passa e mentir para si próprio, como uma justificativa ao tormento que lhe pesa na consciência; uma forma de aliviar a culpa negando-se a pensar no mal que está praticando. Uma negação anestésica aplicada à consciência, que por certo tempo adia a somatização do mal na alma e no corpo.
A corrupção se esboça no desejo de poder, na ambição do ganho e da vantagem, no ego engrandecido, internamente, para depois se materializar no ato do recebimento ou pagamento da propina. Quando a propina chega o ser já está há muito corrompido.
No entanto, por mais que as dissimulações pareçam perfeitas ninguém consegue adulterar a façanha de ter um corpo inteligente que se expressa somente pela verdade. O corpo não aprende a dissimular, e não tem jeito de ensiná-lo ou corrompê-lo, por mais esforço e treinamento que se faça.
À custa de muito esforço e técnicas teatrais consegue-se manipular gestos e se comportar com aparente dignidade, mas as sutilezas da verdade sempre aparecem nos detalhes mínimos aos que não se prendem só nos movimentos exteriores. Os melhores atores, aqueles que se fundem ao personagem, ainda assim nunca serão o personagem e a distinção é perceptível.
O que vem de dentro não se move senão pela verdade, e o corpo é o aparato no qual essas expressões se manifestam.
Existe uma linguagem pela qual o corpo se comunica, que se chama costumeiramente linguagem corporal, e quem aprende essa linguagem do corpo jamais se deixara enganar por quem quer que seja, porque a sua leitura é feita pela alma e é puramente intuitiva.
Na verdade, somos todos em certo grau já corrompidos. Porque toda vez que mentimos ou negamos a verdade em momento qualquer com intenção e propósito de obter alguma vantagem, é reflexo do ser já corrompido. Há que se considerar, no entanto, que às vezes é necessário adiar a revelação da verdade, e isso não é mentir desde que, no momento certo, a revelemos.
A corrupção não é medida por valores monetários e sim pela escala rígida dos valores ligados à ética frente à verdade.
O primeiro ato para que se possa estabelecer uma relação baseada em propinas e outras vantagens que a corrupção propicia, é mover de dentro de si os valores ligados à ética, jogar fora os códigos internos da vida moral e destruir qualquer sentimento de compaixão pelos semelhantes.
A corrupção em escala na vida pública, nos governos e na política partidária, nas organizações e corporações, é um dos crimes mais bárbaros pelos reflexos nefastos que deixa na sociedade e pela responsabilidade social das pessoas que ocupam cargos dessa envergadura.
Guarde bem e cultive os sagrados valores da vida, para que jamais a tentação de se permitir qualquer ato que o corrompa seja efetivado.
A sustentação da força no bem se assenta sobre os valores e as virtudes que consagram o ser justo e ético.
Luìz Trevizani – 05/09/2023