O TEMPO, A VIDA E A ETERNIDADE

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O tempo e a vida permanecem no quadro esboçado e nunca finalizado na arte, na filosofia e nas ciências. Não há definições cabíveis na pintura do quadro do tempo e da vida, por mais ilustrativas que sejam nossas ideias. Tanto o tempo quanto a vida permanecem assim carimbados na esfinge enigmática da eternidade, no mistério não revelado à humanidade.

Santo Agostinho, bispo da igreja católica, teólogo e filósofo (354-430 d.C.), quando perguntado sobre o que é o tempo deu a seguinte resposta - “Se ninguém me perguntar, sei o que é; se eu quiser explicar o que é a quem pergunta, não sei mais”.

Nós sabemos desde que não nos perguntem. Porque quando nos perguntam, apesar de saber, não temos como trazer as respostas da consciência profunda para a mente racional e então desandamos a relatar ideias concebidas uns dos outros.

Dizer, eu nada sei, exige uma boa dose de coragem e humildade.

Toda verdade está codificada na consciência, mas a sua compreensão depende do desenvolvimento de certa quantidade e qualidade da consciência. Certamente uma quantidade e uma qualidade cujas não estão em nossa capacitação atual.

As respostas podem ser intuídas no silêncio da vida interior, inacessível à mente racional, a mente material concreta, e isso vale tanto para a questão do tempo quanto da vida e da eternidade; talvez no futuro quando desenvolvermos essa faculdade do Espírito, adormecida na alma, possamos compreender o que é o tempo, a vida e a eternidade.

Por enquanto, permaneçamos na contínua busca pelos engendrados caminhos do mistério que nos fascina e nos atrai ao nosso desconhecido mundo da vida interior, um microcosmo representativo do macrocosmo, onde foram codificados os mistérios do tempo, da vida e da eternidade, que insistimos em buscar fora de nós pelo espaço infinito das galáxias e dos universos.

As respostas estão dentro de nós, mas nós fomos condicionados a buscá-las fora, como bem representa a metáfora da mulher que perdeu o seu dedal dentro de casa e o procurava lá fora, na estrada que passava em frente à sua casa porque lá fora era mais iluminado que dentro de casa. Essa metáfora é significativa, pois indica que nosso mundo da vida interior carece de iluminação. Só a luz da consciência pode iluminar nosso mundo da vida interior.

Entretanto, surge outra questão crucial – quem se interessa, e quanto é seu interesse por esse trabalho de expandir a consciência e iluminar seu mundo da vida interior?

A expansão da consciência depende de um trabalho árduo medido por muito esforço, disciplina, estudo e autoestudo. O autoconhecimento, portanto, não é alcançado por meio do conhecimento somente, não é uma questão somente teórica. O conhecimento adquirido pelos estudos junto com as experiências forma o enredo e o roteiro do trabalho a ser desenvolvido em si mesmo.

Voltemos às questões do tempo e da vida.

O tempo é nossa propriedade?

Então, por que usamos certas expressões como, tenho tempo, não tenho tempo, ganhei tempo para resolver o problema, me dá um tempo, meu precioso tempo, e outras mais?

Parece que até em relação ao tempo nos tornamos possessivos e egocêntricos.

Ou o tempo é só mais uma mercadoria comprada, vendida ou doada no mercado das ilusões?

Ridículo pensar no significado dado às palavras nas expressões de nossas ilusões, mentiras e verdades.

E a vida, é nossa propriedade?

Da mesma maneira nos referimos à minha vida, a sua vida, a vida disso e daquilo.

Então a vida pode ser comprada e vendida, doada e recebida de alguém?

Ridículo pensar que somos proprietários do tempo e da vida.

Se o tempo é uma limitação da nossa percepção da realidade, a vida então é uma concessão do Criador de Tudo e ela não nos pertence a ponto de tomarmos posse dela. Na verdade, é a vida que nos possui em si mesma e nós somos uma de suas tantas formas de manifestação no plano da existência cósmica.

O tempo permanece unido ao mistério não resolvido da vida. E a vida se desenrola no mistério da eternidade nunca compreendida pelo ser humano.

Pelo menos a eternidade ainda não pode ser propriedade de ninguém. Até onde se sabe, por enquanto, porquanto a ganância do ser humano ainda é tanta que comporta até mesmo o registro de propriedade do tempo, da vida, e quem sabe também da eternidade. Ou será que não?

Ou será que não há interesse pela eternidade, porque ela derruba todas as nossas teorias acerca do tempo e da vida, e conspira em favor da verdade?

Perguntas e mais perguntas, algumas feitas sobre respostas já prontas no mercado das ilusões, vendidas por formadores de opiniões e influenciadores diversos; outras que são irrespondíveis e que nem sonhamos como elaborar suas respostas.

O amor pela sabedoria e a verdade causa dor na alma e muito sofrimento pelo aperto sentido no coração ante tanta ignorância. Mas o fato de reconhecer o tamanho da nossa ignorância já o começo da busca pela verdade e por desenvolver a sabedoria, porquanto ainda somos iniciantes nessa filosofia oculta por trás das mentiras que aprendemos como verdades.

Por trás de toda mentira há sempre uma verdade oculta. Nós é que não queremos ver por que ainda não desenvolvemos o olho que tudo vê, o Olho de Hórus.

Até quando o ser humano se nutrirá no mercado das ilusões comprando, vendendo e trocando tempo e vida?

Regozijo-me de saber o tamanho da minha ignorância, e de nem poder imaginar a imensidão do que está pela frente para aprender, especialmente sobre vida, tempo e eternidade.

Luìz Trevizani – 09/09/2023