O Destino, o Livre-arbítrio e o Carma

O Livre-Arbítrio

O livre-arbítrio é uma medida de liberdade fundamental, limitada pelo destino e pelo carma, que nos permite fazer escolhas por vontade própria e com responsabilidade. Essa liberdade de escolher, no entanto, é condicionada pela consciência, a qual está sujeita às Leis Supremas que regem e ordenam toda a existência e estabelecem as premissas morais e éticas que orientam o ser humano em sua evolução espiritual.

Ainda sabemos pouco sobre a extensão dessa liberdade fundamental e onde se encontram seus limites. Vamos descobrindo isso ao experimentar o bem e o mal, a dor e a felicidade, até que, pelo avanço moral, a consciência ética desperta. Então, aprendemos a agir dentro dos limites impostos pelo destino e pelo carma, até alcançarmos a libertação completa dessa trama. Dessa maneira, podemos entender o livre-arbítrio como um mérito importante, que demonstra que depende unicamente de nossas escolhas o que será melhor ou pior para nós, e, consequentemente, a responsabilidade de arcar com seus efeitos.

Toda escolha pressupõe a existência de pelo menos duas opções. Assim é na vida, quando nos deparamos com os dois caminhos – o do bem e o do mal, o da luz e o da escuridão – e temos que escolher um deles. Mas a escolha que fazemos, mesmo aquela feita com a melhor das intenções, ainda assim pode não ser o caminho do bem e da luz.

Para seguir o caminho da luz, não podemos negar o da escuridão ou fugir dele. Na verdade, são duas faces de nossa alma, expostas como dois caminhos, e a negação de um deles não representa a solução para o outro. Quando buscamos o bem, queremos evitar o mal, mas, ao evitá-lo, muitas vezes o atraímos. Assim, o caminho da escuridão, do mal, precisa ser iluminado, e não evitado, porque é preciso lembrar que ambos são aspectos de nós mesmos, e não caminhos exteriores.

Ao escolher seguir o caminho da luz, do bem, iluminamos nossa natureza interior, elevando o nível da consciência; assim, a escuridão e o mal são transmutados pela luz e pelo bem. Através das experiências, bem ou malsucedidas, é que vamos aprendendo o que é bem e o que é mal, pela felicidade e pela dor. Dessa forma, vamos aprimorando nossa percepção e alcançando níveis mais conscientes de inteligência em nossas escolhas. E assim é a dança da nossa evolução.

O Destino

O destino é muitas vezes associado à fatalidade, àquilo que não pode ser evitado, que está determinado a ser cumprido ou executado. Contudo, embora essa compreensão não seja totalmente equivocada (pois há, de fato, uma destinação e um determinismo traçados para a vida do ser humano em cada nova encarnação), deve-se considerar que esse destino, em primeiro lugar, é delineado de acordo com os méritos alcançados. Isso está ligado à conta do carma, ou seja, ao bem ou ao mal praticado no passado em conjunto com as necessidades futuras.

O destino determina o que será ou terá que ser feito, e nós escolhemos como e, até certo ponto, quando será feito. Em outras palavras, somos guiados pelo destino, mas não totalmente obedientes, porque ainda não entendemos que ele é o plano inserido na alma para nossa evolução espiritual. Então, nossas escolhas, em grande parte, são equivocadas, e não compreendemos que o livre-arbítrio é um dos mais importantes benefícios recebidos, permitindo-nos aprender por meio de nossa própria inteligência.

O problema humano está muito relacionado aos condicionamentos mentais e às crenças assimiladas e aceitas como verdades determinantes. Isso cria prisões mentais nas quais o indivíduo se limita a uma expansão de consciência muito menor do que poderia desenvolver em uma existência terrena. Esses condicionamentos o levam a se tornar vítima do destino em vez de protagonista, e a usar inadequadamente sua capacidade de fazer as melhores escolhas para seu bem.

O destino, embora seja um roteiro traçado a ser cumprido, permite-nos certa liberdade para modificá-lo, também conforme nossos méritos e, fundamentalmente, por meio de nossas ações no bem. Podemos ver o destino como um caminho no mapa da vida, que nos indica a direção a seguir para alcançar nosso objetivo com a bagagem que angariamos durante a existência terrena. Essa bagagem é o resultado das escolhas que fizemos no exercício do livre-arbítrio. Com isso, entendemos que o livre-arbítrio é um grau de liberdade que existe dentro do determinismo do destino e que nos permite modificar certos aspectos desse roteiro, segundo os méritos alcançados.

O Carma

A palavra “carma” tem sua origem no Sânscrito, a antiga língua clássica da Índia, e significa “ação”, cujo resultado retorna ao próprio autor. O carma, portanto, nada mais é que a lei de causa e efeito em ação. O acúmulo dos efeitos (positivos ou negativos) durante uma encarnação influencia o planejamento do destino na encarnação seguinte.

O carma não é bom nem ruim, mas justo, pois atua na exata medida das necessidades de correção e aprendizado de cada indivíduo, também no âmbito coletivo. É dessa maneira que entendemos que o carma interfere como agente limitador em certos aspectos da vida terrena, sempre que houver necessidade de ajustes a fim de melhorar a condição moral e ética do ser.

Não há castigo, portanto; tudo é merecimento, inclusive a dor vivenciada como consequência de termos causado dor a outros no passado. Na vida, tudo visa somente ao bem e ao progresso espiritual. Não há injustiça no carma, portanto, mas sim novas oportunidades inseridas no destino para a regeneração de débitos passados e para o progresso espiritual, utilizando os meios que o mundo material propicia. E a correção do carma ou a sua perpetuação no estado atual é determinada pelas nossas escolhas, feitas no exercício do livre-arbítrio.

Observamos certos casos graves de transtornos mentais que parecem anular a capacidade de individuação do ser. Para essas pessoas, a vida se torna uma prisão mental na qual terão que se regenerar sob a imposição dessas limitações. Não conhecemos a causa exata dessas condições, embora nossos estudos em psicologia e, principalmente, em espiritualidade, ofereçam indícios de que se trata de efeitos do carma.

Serão, nesses casos, consciências atormentadas pelos reflexos de suas próprias ações no passado? Sem julgar para sentenciar, devemos observar para aprender.

Moral e Ética

A moral é formada por um conjunto de regras que norteiam e educam para o progresso humano em seus aspectos cultural, político, religioso e espiritual. Essas regras não são fixas, mas podem ser modificadas de acordo com o avanço ético da humanidade. O conceito de moral, contudo, é muito amplo, e não cabe aqui discutir seu alcance.

A Ética, segundo entendemos, é a culminância da moral, no ponto mais elevado da consciência. Nesse patamar, o ser humano não depende mais das regras da moral para exercer seu livre-arbítrio e fazer suas escolhas, pois entendeu que toda ação gera uma reação cujo efeito prejudicará os outros e retornará para si mesmo. Essa medida do justo entendimento da lei do amor é o que se entende por ética, fundamentada no âmbito da evolução espiritual – na premissa do, “ama o teu próximo como ele é tu mesmo.” Cabe considerar, entretanto, que, assim como a moral é ampla, os entendimentos sobre a ética também o são, e não nos cabe aqui discutir isso.

Conclusão

Conclui-se, portanto, que a trajetória humana é um tecido complexo onde o destino, influenciado pelas ações passadas (carma), estabelece um cenário de aprendizado, mas não uma sentença imutável. Dentro desse cenário, o livre-arbítrio emerge como a ferramenta fundamental que confere ao indivíduo a capacidade e a responsabilidade de fazer escolhas. São essas decisões conscientes, tomadas diante das experiências de dor ou felicidade, que permitem não apenas seguir pelo caminho proposto, mas também transformá-lo, promovendo a própria regeneração, o ajuste cármico e, em última instância, o avanço na contínua jornada de evolução espiritual, a fim de se tornar, enfim, um ser ético.  

Espalhe a idéia!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Outros Conteúdos Para Você