O Arquiteto e o Esqueleto do Pensamento
A razão é a fita métrica com que se mede a extensão da lógica. Isso se torna evidente quando questionamos seus limites – até onde a lógica alcança quando buscamos entender algo que a transcende, como o sentido da vida? A razão, portanto, não se relaciona com a lógica apenas como um critério de avaliação, mas como a própria inteligência que a gera. Por ser sua fonte, a razão naturalmente ultrapassa a lógica em abrangência, pois integra tanto o campo do pensamento concreto quanto o da intuição.
Se a lógica é o ponto de vista para o entendimento dos fatos, a razão é a fonte da compreensão. A compreensão é mais profunda e mais abrangente, pois não apenas observa os eventos, mas também investiga os valores e os porquês subjacentes à própria lógica.
A lógica é o sistema que estrutura o pensamento correto. Com ela, validamos argumentos, analisamos a relação de causa e consequência e garantimos a ausência de contradições. A lógica assemelha-se ao esqueleto que sustenta nosso pensamento – dá-lhe forma e sustentação. Sozinha, porém, ela é inerte e desprovida de propósito, podendo validar um argumento tanto para a compaixão quanto para a crueldade.
A razão, por sua vez, é a faculdade mais ampla que utiliza a lógica para compreender o mundo, ponderar valores e tomar decisões. Ela é o arquiteto que usa os princípios da engenharia (a lógica) para construir algo com significado. A razão não se limita a perguntar “Este argumento é válido?”, mas vai além, questionando: “Ele é bom, justo e ético?”.
A Integração como Base Fundamental à Temperança
Integrar luz e sombra é compreender que a sombra é um produto da luz, não seu oposto. Ela só existe quando um corpo bloqueia o caminho luminoso. Da mesma forma, nossas sombras interiores não são o contrário do nosso melhor, mas o contorno de nossas escolhas, crenças e ações projetado pela nossa própria luz — nossa inteligência, consciência e amor. Portanto, embora possam parecer assombrosas, as sombras não são boas nem más; são apenas imagens refletidas pela luz interior, que nos mostram onde estamos nos bloqueando. Dessa integração primordial entre luz e sombra, nasce um estado de pacificação interior. Esse estado resulta da diluição do medo — talvez o maior vilão do desenvolvimento humano, com um efeito devastador sobre a jornada espiritual.
A temperança, contudo, é uma virtude que vai além, projetando-se da integração total do ser. Ela não se refere apenas ao confronto entre o potencial de luz da centelha divina e as sombras geradas pelo medo e pela culpa. Acima de tudo, ela exige a integração dos diversos planos da mente, como já abordamos em “A Integração na Jornada de Autoconhecimento Pelos Caminhos do Tarô“. Assim, a temperança se revela como a virtude alcançada por esse esforço interior, que pacifica os conflitos nascidos de crenças conflitantes e de suas consequentes sombras, a culpa, o medo e outras.
A Razão Sobrepondo a Lógica na Compreensão dos Eventos
As melhores coisas costumam acontecer quando estamos em nosso melhor estado, assim como as piores tendem a ocorrer nos momentos de maior fragilidade. Embora essa correlação pareça lógica, muitas vezes temos dificuldade em compreender sua verdadeira razão. A explicação pode estar na atitude que cultivamos, pois dela derivam os pensamentos e as emoções que geram respostas no mundo exterior. De fato, há sempre uma atitude subjacente a tudo o que nos acontece — ao que atraímos e até mesmo às doenças, que podem ser o reflexo de desarmonias internas. Poderíamos, então, dizer que a atitude é a razão por trás dessa lógica?
A resposta parece ser afirmativa, especialmente quando consideramos os estudos no campo da metafísica aplicada à saúde. A premissa é que para cada evento adverso — seja uma depressão no campo interior, uma doença no corpo ou um acidente no exterior — há uma atitude subjacente gerando desarmonia e atraindo a adversidade. O mesmo princípio, claro, vale para o inverso – atitudes positivas geram harmonia, manifestando-se como saúde e acontecimentos favoráveis.
Portanto, aceitar que existe essa “razão” (a atitude) por trás da “lógica” (os eventos) amplia radicalmente nossa perspectiva. Passamos a ter uma compreensão mais profunda de nossa responsabilidade, que não se limita apenas a nós mesmos e ao que nos acontece, mas se estende à nossa influência sobre os outros e o mundo.
O Mecanismo da Ilusão no Balanço da Temperança
Aquilo que observamos, sentimos e percebemos são meras partes de um todo maior. Nossa capacidade de compreensão, ainda em desenvolvimento, não consegue abarcar a plenitude da existência. Isso vale para a verdade, para a vida e para tudo aquilo cuja grandeza ultrapassa nossos sentidos físicos. Para além deles, contamos com as sutis percepções da intuição, mas temos uma enorme dificuldade em traduzir sua linguagem para a clareza de nossa lógica, ainda que a razão nos permita vislumbrar parte de seu significado.
Vivemos, portanto, em uma ilusão de perspectiva. Nossa jornada é um esforço contínuo para reunir as peças, na esperança de decifrar o mecanismo real do universo, da vida e de nós mesmos. Buscamos uma compreensão futura que ainda nos escapa, dado nosso atual nível de consciência e grau de inteligência. A visão plena do todo é a própria onisciência, um estado que nos é, por enquanto, inalcançável.
O Autocontrole Emerge da Autoconsciência na Temperança
É no balanço da temperança que encontramos o ponto de equilíbrio dentro da “bolha de ilusão” em que vivemos. Esse é um processo que envolve observar, comparar e, por fim, integrar as diversas partes de nossa experiência. A temperança é frequentemente vista como moderação e autocontrole. No entanto, seu verdadeiro significado está na arte de encontrar o equilíbrio pela integração e pela harmonia interior. Seja na busca filosófica ou na jornada espiritual, a temperança nos impulsiona a transcender os desafios cotidianos, revelando-se uma ferramenta fundamental para alcançar a integridade e a paz de espírito.
Conclui-se, portanto, que a jornada pelo autoconhecimento é a própria prática constante da temperança. Ela se manifesta no uso da razão para ir além da lógica, na coragem para integrar luz e sombra, e na sabedoria para reconhecer nossa atitude como a força motriz por trás dos eventos de nossa vida. Ao aceitarmos com humildade os limites de nossa percepção, a temperança deixa de ser apenas uma virtude e se torna a bússola que nos equilibra, harmoniza e guia com serenidade através do grande mistério da existência, transformando a busca pela verdade em um caminho de paz interior.