Muitas vezes, nos prendemos aos conceitos criados por outros e, com isso, deixamos de explorar nossa própria capacidade de interpretar o mundo, especialmente no que tange ao ser humano e sua consciência. Em termos gerais, especialistas apresentam “ser consciente de si” e “ser autoconsciente” como sinônimos. Contudo, existe uma diferença fundamental, que se torna clara quando nos afastamos do senso comum e focamos nossa visão na experiência real.
Para explorar essa diferença, precisamos primeiro refletir sobre o que é a consciência. Embora possa soar pretensioso para um leigo como eu, talvez seja justamente essa ausência de especialização que me dá a coragem e a inocência para investigar os mistérios da vida, traduzindo suas complexidades em entendimentos mais simples e práticos.
Dessa forma, entendo a consciência como o campo da mente desperta, onde a inteligência atua com discernimento, permitindo ao indivíduo perceber, compreender e refletir sobre si mesmo e o mundo. Indo mais fundo, encontramos a definição de Itzhak Bentov em seu livro À Espreita do Pêndulo Cósmico – “A consciência é a capacidade de um sistema, por mais rudimentar que seja, de responder a estímulos.” Partindo desse conceito, podemos inferir que tudo possui um grau de consciência, sendo ela o núcleo de todas as formas existentes. O que nos diferencia nos diversos reinos da natureza é a quantidade e a qualidade dessa consciência.
No ser humano, essa qualidade se manifesta em diferentes níveis ou camadas de profundidade. É justamente nesses níveis que a distinção entre “ser consciente de si” e “ser autoconsciente” ganha sentido, marcando estágios distintos na jornada do autoconhecimento.
Ser Consciente de Si – A Primeira Camada
Ser consciente de si corresponde à primeira camada do autoconhecimento e responde à pergunta universal: “Quem sou eu?”. Nessa fase, a percepção está associada à personalidade e à identidade construída no ego. O indivíduo se reconhece por meio de suas características, papéis e traços, percebendo-se como um ser vivo dotado de pensamentos, sentimentos e emoções.
A perspectiva aqui é de fora para dentro. A pessoa consegue se observar, mas ainda não possui o discernimento de que o mundo externo é, em grande parte, um reflexo de seu universo interior. Ela se identifica com o que sente e pensa, sem ainda se ver como a fonte criadora dessas experiências.
Ser Autoconsciente – A Segunda Camada
Ser autoconsciente representa um mergulho para a segunda e mais profunda camada. É a capacidade não apenas de se perceber, mas de se observar de uma perspectiva mais elevada e desidentificada. O indivíduo deixa de se ver como a personalidade e passa a se entender como a consciência que observa a personalidade em ação.
A visão agora inverte-se, partindo de dentro para fora, e a pergunta muda de “Quem sou eu?” para “O que sou?”. A autoconsciência é a capacidade de ser o observador de si e, a partir desse lugar, gerenciar a si mesmo, estando consciente dos próprios pensamentos e das respostas emocionais. Em termos práticos, representa um amadurecimento no qual a pessoa se fortalece em sua individuação, conseguindo “se bancar” em si mesma, sem dependência emocional externa. Isso nada tem a ver com egocentrismo; trata-se de alcançar um nível de consciência mais elevado e assumir efetivamente a responsabilidade sobre tudo o que gera com seus pensamentos, atitudes e comportamentos.
Portanto, a jornada da consciência de si para a autoconsciência é uma evolução do ser. É a transição de se saber um personagem na própria história para, finalmente, assumir o papel de seu autor. Deixar de ser apenas uma reação aos estímulos do mundo e tornar-se o centro de onde emanam as escolhas. Esse caminho não é linear nem fácil, mas é nele que residem a verdadeira liberdade e a capacidade de construir uma vida autêntica, alinhada com a essência mais profunda do que realmente somos.