A corrupção, embora pareça ser um problema enraizado nas estruturas políticas e no Estado, é, na verdade, uma manifestação dos desvios internos do ser humano. Ela nasce da falsidade no sentimento, que se projeta no comportamento e se espalha pela sociedade, influenciando as estruturas políticas e socioeconômicas.
Toda corrupção começa com a distorção dos sentimentos nas nossas relações interpessoais. A pequena mentira para justificar um atraso, por exemplo, cria um “efeito borboleta”. A soma desses pequenos atos de falsidade por parte de muitos cria um ambiente propício para que a corrupção se manifeste em níveis maiores, como no suborno de autoridades.
A corrupção tem suas raízes em pequenas ações aparentemente inofensivas, que muitas vezes passam despercebidas em relação às suas futuras consequências. Um exemplo disso é quando ensinamos as crianças a dissimular seus sentimentos, em vez de oferecer uma educação que valorize a sinceridade e a integridade. Na escola, o foco está frequentemente na competitividade, enquanto questões como ética e colaboração são pouco abordadas. Mesmo quando esses valores são discutidos, acabam sendo ofuscados pela ênfase no sucesso individual. Esse ambiente competitivo incentiva o desenvolvimento de comportamentos antiéticos como meio de alcançar o sucesso.
Na sociedade brasileira, a ideia de levar vantagem em tudo se tornou quase uma norma. Isso abre caminho para que a corrupção se infiltre, especialmente quando egos inflados por títulos, cargos e poder encontram oportunidades de se corromper.
O corruptor, sempre à espreita, se aproveita das fraquezas éticas e morais das personalidades no poder. As estruturas que sustentam o ego humano são compostas de soberba e vaidade, que elevam a personalidade a um ilusório patamar de poder. No entanto, essas estruturas são frágeis diante do brilho da moeda.
O Ciclo da Corrupção
As ilusões que o ego projeta na personalidade humana desviam-na para o caminho da corrupção. Tudo começa com a corrupção do sentimento, que se manifesta em pequenos favores e cresce a cada passo. Esse processo é alimentado pela gratidão do corruptor, até que, de “favor” em “favor”, a corrupção atinge níveis mais complexos, como depósitos em contas bancárias no exterior.
Portanto, enquanto o sentimento estiver sendo corrompido, a corrupção encontrará terreno fértil. O sentimento, que deveria orientar a ética e a verdade de acordo com a consciência, precisa primeiro ser desviado de suas funções para que a corrupção se materialize. No popular, isso é descrito como “vender a alma ao diabo” – o primeiro ato no palco da corrupção.
O Falsear dos Sentimentos
Aprendemos a falsear nossos sentimentos para obter vantagens, seja o reconhecimento no grupo social, seja um cargo desejado. Assim, nos tornamos devedores dos favores de “padrinhos” benfeitores, e o caminho de retorno à ética se torna cada vez mais difícil, pois o ego já foi insuflado.
Dessa forma, quase todos nós, em algum grau, estamos corrompidos. Um exemplo claro disso é observado em práticas cotidianas: em determinados países europeus, supermercados exigem uma moeda para liberar o carrinho de compras, que é devolvida apenas quando o carrinho é recolocado no lugar correto. Isso, por si só, reflete o quanto precisamos ser “forçados” a agir eticamente.
O Reflexo no Cotidiano
No Brasil, é comum vermos carrinhos de supermercado abandonados em estacionamentos, longe de seus locais de origem. Esse comportamento revela como o ego, focado nas próprias vantagens, esquece que faz aos outros o que não gostaria que fosse feito a si próprio. Ironia maior é que muitos dos que agem assim são os primeiros a reclamar da corrupção política.
A Ética Corrompida
Toda corrupção começa pela quebra das bases éticas, com a adulteração do sentimento. A partir daí, o “efeito borboleta” da corrupção se expande, e suas consequências tornam-se imprevisíveis. A soma dos nossos sentimentos corrompidos projeta-se externamente, criando as condições para que a corrupção se manifeste em ações que buscam facilidades e vantagens, especialmente na política.
A Erradicação da Corrupção
A corrupção está profundamente enraizada nas entranhas da mente humana, como parte da natureza do ego. Ela só poderá ser erradicada por meio de um compromisso ético forte e inabalável, começando com a integridade nos nossos próprios sentimentos. Somente assim conseguiremos enfrentar a corrupção em sua origem e impedir que ela continue se espalhando na sociedade.