A Inocência na Plenitude do Despertar de uma Nova Consciência

Ao nascermos, possuímos uma inocência pura, uma fragilidade infantil que se reflete como beleza. Com o tempo, porém, crescemos e aprendemos sobre as dissimulações e as asperezas do mundo, o que nos faz perder essa pureza original. No entanto, para alcançar a plenitude da vida interior e despertar uma nova consciência, é preciso resgatar essa inocência primordial. Não se trata de um retorno à infantilidade, mas de uma pureza que emerge da profunda experiência de vida, semelhante à da criança, mas com a maturidade de quem já viveu com sabedoria.

A criança, em sua inocência, não enxerga a maldade. Ela cultiva uma ingenuidade natural e deposita uma confiança plena tanto na vida quanto nos adultos, mesmo sendo totalmente dependente deles. Os perigos do mundo lhe são desconhecidos; na verdade, são os perigos criados pelos próprios adultos – suas disputas, ganância, egoísmo e guerras estúpidas por motivos injustificáveis. Da mesma forma, a criança lida com sua sexualidade sem malícia, pois sua percepção ainda não foi corrompida pela visão moralista sobre o sexo que gerou a pornografia.

Nas entranhas deste mundo, corrompido pelas ambições humanas, ainda se encontra o caminho original da verdade, do amor e da sabedoria, legado a nós para nossa plena evolução espiritual. As nossas angústias e sofrimentos apenas indicam o quanto nos distanciamos desse caminho. O retorno, contudo, exige que nos tornemos como crianças outra vez, resgatando a inocência pura – não com ingenuidade, mas com sabedoria. Esta inocência não é a da ignorância, mas a da sabedoria que reside na simplicidade e na espontaneidade. Ela representa a redescoberta da alegria pura e da capacidade de se maravilhar com a vida, livre dos fardos e condicionamentos do passado.

Os Percalços no Caminho da Transformação

O problema humano, em grande parte, está enraizado no apego ao mundo com seus atrativos e oportunidades. Trata-se de uma ilusão nascida de uma perspectiva materialista, sustentada pela ignorância e por um ego que se tornou o centro da existência humana. Em consequência, o ser humano tornou-se egocêntrico, desejando que tudo gire em torno de si. O apego, aliado ao egocentrismo, forneceu assim o material com o qual se construiu a torre das ilusões.

A jornada da alma humana pelo mundo atravessa diferentes estações, cada uma se apresentando com suas próprias lições e propósitos transformadores para regeneração da consciência, decaída e aprisionada na matéria. Os percalços nesse caminho são muitos, e as tentações, muitas vezes mais fortes que a determinação, a vontade e o compromisso com o plano evolutivo, fazem com que o ser humano sucumba ao vício e à inércia.

É imperioso afirmar que o ser humano é dotado de todos os atributos necessários ao seu progresso, tanto material quanto espiritual. Se algo lhe falta, não é por não lhe ter sido dado, mas sim por ele ter ignorado ou se descuidado da sua existência. No entanto, todo progresso exige esforço educativo, persistência, vontade e, principalmente, obediência ao impulso profundo da consciência. Os percalços no caminho, embora se apresentem como provações ou testes à vontade, nunca serão empecilhos ao avanço, mas sim oportunidades de superação e desenvolvimento de talentos e da própria inteligência.

A Luz no Caminho da Transformação Interior

A transformação interior e a transmutação mental se desdobram em diversas etapas, nas quais a consciência é confrontada consigo mesma e com as sombras profundas do inconsciente que clamam por iluminação. Contudo, dentre os diversos sensos arraigados na alma, existe uma fonte luminosa que indica a direção nesse caminho – a intuição.

Encarar o passado é um processo por vezes doloroso, especialmente por estar carregado de memórias, algumas tenebrosas, armazenadas e esquecidas na mente inconsciente. No entanto, a purificação que advém da transmutação e ressignificação dessas memórias é compensada por um estado de paz interior e autoconfiança, sustentado por uma fé sólida na providência divina, que opera por meio de suas leis justas e sábias.

Vislumbres da Iluminação

A conquista do reino interior é mais uma construção do novo ser do que uma vitória alcançada em lutas constantes. Há, sim, uma vitória sobre a ignorância, mas ela não resulta do combate direto aos vícios e à inércia. Pelo contrário, é a consequência do trabalho transformador empreendido em cada existência, tanto no plano material quanto no espiritual, transmutando o mal em bem pelo amor. Aos poucos, a consciência adquire mais luz, e suas percepções se expandem, diminuindo gradativamente a escuridão da ignorância.

Os primeiros sinais da futura iluminação surgem como pequenos êxtases quando o indivíduo ingressa no caminho da iniciação espiritual. Contudo, esse caminho não é idêntico para todos. Para alguns, ele se revela de forma mais direta ou intensa, de acordo com seu estágio evolutivo e o propósito da encarnação atual. A iniciação pode ocorrer por meio de rituais conduzidos por um mestre, ou, simplesmente, pela ação da vontade, da disciplina e da obediência ao impulso interior. Esses sinais e experiências de expansão da consciência manifestam-se, muitas vezes, como uma sensibilidade aguçada para as percepções mais sutis da vida. São vislumbres do que virá a ser a iluminação plena em um futuro não muito distante. Provavelmente, essa plenitude ainda não ocorrerá na existência atual. Trata-se, portanto, de uma preparação da alma para sua manifestação em uma futura encarnação.

A Iluminação Espiritual e a Nova Consciência

A iluminação plena da consciência é o reflexo da inteligência e da sabedoria espiritual, que floresce no amor; é uma expansão do campo de percepções da consciência. A sabedoria espiritual está no silêncio, e a semente dela é o puro e verdadeiro bem. Uma visão inefável desperta por ação da misericórdia divina, quando o ser se completa na contemplação do TODO e reconhece que possui os mesmos atributos do TODO em sua essência, bem como o potencial para seu desenvolvimento. Mas reconhece, agora mais do que antes, que a humildade lhe serve mais que a pretensão de se iluminar. Nesse despertar da nova consciência, abre-se o espaço interno para a manifestação de seu potencial de inteligência, amor e compaixão, embora isso não ocorra de repente, nem mesmo em um prazo determinado, pois, dessa maneira, ainda seria um desejo envolvendo o ego. 

Assim, a jornada da consciência completa seu ciclo – parte da pureza ingênua da infância, atravessa os desertos do ego e os percalços da transformação, para finalmente reencontrar essa inocência original, agora vestida de sabedoria. Não se trata de uma conquista ruidosa, mas do silêncio de quem desmontou, peça por peça, sua torre de ilusões e aprendeu a ouvir a si mesmo. A verdadeira iluminação, portanto, talvez seja apenas isto – retornar ao reino interior, olhar o mundo com a clareza da criança e a compaixão do sábio, e reconhecer no TODO a essência que sempre esteve em nós, esperando pacientemente para ser redescoberta.

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