A Visão Distorcida da Realidade e o Caminho Evolutivo da Consciência Humana

Tudo o que vemos e ouvimos passa pelo filtro das nossas interpretações. Da mesma forma, o que lemos é interpretado de acordo com nossas crenças limitantes e dogmas, os quais definem as verdades que aceitamos. É assim que percebemos a vida, o mundo, a verdade, a existência, os outros e a nós mesmos.

Somos, nós mesmos, vítimas dessas interpretações subjetivas, distorcidas pelos conteúdos cultivados na mentalidade dominante. Tornamo-nos espectadores alucinados de um espetáculo do qual somos coautores, mas péssimos protagonistas. O resultado disso é um roteiro de vida mal compreendido e perspectivas pouco promissoras quanto ao nosso destino e missão.

A verdade é que ainda não despertamos para ser o que realmente somos. Por enquanto, atuamos apenas como personagens em um espetáculo que apresenta mais cenas de tragédia do que de bondade, amor, ética e justiça.

O mergulho da consciência nas profundezas da matéria limitou drasticamente o campo de percepção da inteligência espiritual, embora, por natureza, sejamos portadores de todos os seus atributos. Nessa condição de dormência, seguimos tateando no escuro, em busca da luz da verdade que possa nos iluminar e expandir nossas percepções.

A raiz do problema ainda não resolvido está no apego ilusório a esta realidade material na qual estamos imersos, incluindo seus objetos e valores temporais. Com isso, perdemos a noção da eternidade da existência e passamos a acreditar que a vida se resume ao tempo de uma única passagem pelo corpo físico. Isso acontece mesmo que, teoricamente, cultivemos uma fé ainda inconsistente na eternidade e na pluralidade das existências através de múltiplas encarnações.

Não há como nos libertarmos do sofrimento que a vida nos impõe enquanto estivermos apegados às posses e aos valores nutridos pelo ego. A libertação é impossível enquanto mantivermos o ego no centro de nossos propósitos, desejos e anseios – isto é, enquanto formos egocêntricos.

Esse egocentrismo é resultado da ilusão de perspectiva que aceitamos como verdade relativa, a qual nos leva a crer que podemos resolver todas as nossas questões transcendentais usando apenas os limites da nossa racionalidade inferior. Se não olharmos para o alto, se não desenvolvermos o intelecto superior, nossa racionalidade servirá apenas como um passaporte para um mundo de sofrimento contínuo. Não sei até quando isso durará, mas nossa libertação certamente não ocorrerá tão cedo se persistirmos nesse caminho.

O caminho evolutivo é longo e desafiador, tanto para o indivíduo quanto para a coletividade. O indivíduo, embora seja uma consciência individuada, pertence intrinsecamente ao TODO.

Contudo, é a própria individuação que o torna um ser consciente de si e de suas responsabilidades – individuais e coletivas – perante a sua evolução e a de todos. Ao superar a mentalidade puramente coletiva, ele não se isola da coletividade; ao contrário, transforma-se em um agente consciente, capaz de atuar como força motriz para o progresso e a evolução da humanidade.

Nesse processo, desenvolvem-se os campos superiores da mente – a mente espiritual, a intuitiva e o intelecto superior. Como resultado, os pensamentos adquirem uma qualidade sublime, fruto do perfeito alinhamento dos três centros potenciais da natureza humana – o centro da inteligência (pensamento), o centro do sentimento e o centro da ação (agir).

Estes três centros, que determinam o pensar, o sentir e o agir, relacionam-se diretamente aos três aspectos fundamentais de nossa constituição – ou, para um entendimento mais claro, às nossas três naturezas: animal, humana e espiritual.

O pensar pertence à natureza espiritual; portanto, a qualidade dos pensamentos reflete o nível de desenvolvimento da inteligência. Contudo, os pensamentos podem surgir como mera reação às emoções e ao instinto. Nesses casos, eles vêm à superfície da mente já contaminados por elementos da natureza inferior.

O sentir, por sua vez, é próprio da natureza humana, e sua qualidade está ligada ao grau de humanização que o indivíduo alcançou. A purificação do sentimento, entretanto, exige superar a consciência reativa, que permanece aprisionada pela natureza inferior. Esse processo ocorre através da elevação do nível de consciência e da transmutação da emoção bruta em um sentimento nobre como a compaixão.

Quanto às nossas ações, coordenadas pelo centro do agir, elas seguem um de dois caminhos: ou obedecem aos ditames dos centros superiores (quando pensamento e sentimento estão alinhados), ou são puramente instintivas, emocionais e impulsivas, refletindo a predominância da natureza animal.

O amadurecimento emocional, por sua vez, consiste no processo de sublimação da natureza inferior (animal). Isso implica na submissão dessa natureza à supremacia da inteligência, a qual enobrece o sentimento através do amor – condição essencial para a plena humanização do ser.

Embora a busca espiritual seja uma constante na vida humana, ela permanecerá limitada a rituais repetitivos se não incorporar esse processo de harmonização das três naturezas (ou aspectos constitutivos). A verdadeira jornada evolutiva só se completa quando a consciência desperta, liberta-se dos jugos da animalidade, atravessa a plena humanização e, finalmente, alcança seu ápice na mente espiritual.

Espalhe a idéia!

1 comentário

  • José Roberto Molinari disse:

    Para além do ritual e das práticas externas, a verdadeira evolução espiritual exige uma mudança interna profunda — o despertar da consciência, a superação do ego e a integração dos aspectos superiores do ser. Somente assim podemos acessar a verdade, a liberdade e a nossa essência divina, contribuindo para a evolução coletiva da humanidade

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