A Morte como Mecanismo de Evolução
A morte, para alguns, é uma experiência dolorosa; para outros, apenas uma passagem, uma transição de estado de consciência, de dimensão da existência. Ao longo da existência, vivenciamos muitas “mortes”. Cada uma delas representa um renascimento, um avanço para um estágio superior de compreensão, por menor que seja essa evolução. Nascer, morrer e renascer – este é o ciclo que se perpetua enquanto for necessário para nos libertarmos da ignorância. Através dele, elevamos nosso nível de consciência e nos preparamos para jornadas em mundos espiritualmente mais avançados.
Há, ainda, as pequenas mortes do cotidiano. São elas a morte das ideias que já não nos servem, o abandono de crenças superadas e a transmutação de nossas sombras. É também a morte do orgulho, da vaidade e da soberba, que acontece à medida que nossa consciência se eleva e nos tornamos mais éticos. A essa lista somam-se as renovações constantes de nossas células e até mesmo os ensaios que vivenciamos durante o sono. Nesses momentos, deixamos o corpo por instantes e encaramos experiências fora dele — algumas felizes, outras tormentosas, que costumamos chamar de pesadelos. São, enfim, as inúmeras mortes que mantêm a vida em sua dinâmica inteligente.
O Véu da Ignorância e o Medo do Desconhecido
Viver é morrer um pouquinho a cada instante. A partir do nascimento – seja de um ser humano, animal, vegetal ou mineral – há uma curva ascendente de formação e crescimento. Logo em seguida, porém, inicia-se o lento processo da morte, que vai consumindo a vitalidade até seu esgotamento natural, quando não há uma interrupção abrupta por algum acidente. Ainda sabemos pouco sobre a totalidade desse processo, embora já haja estudos científicos avançados, caminhos teóricos indicados pela filosofia e milhares de mensagens de desencarnados que abordam o assunto. Esse “mistério” mal compreendido nos amedronta profundamente, pois ainda somos suscetíveis aos efeitos do desconhecido, dominados pelo véu da ignorância que paira sobre a humanidade. Compreender essa dualidade nos leva a uma nova perspectiva – viver é morrer e morrer é viver. O conselho, então, torna-se claro: “Viva como quem morre; morra como quem vive“. Assim, quando o momento da passagem chegar, estaremos preparados. Essa visão é ecoada por André Luiz na obra “Nosso Lar”, psicografada por Chico Xavier, onde lemos: “A vida não cessa. A vida é fonte eterna e a morte é jogo escuro das ilusões“.
O Renascimento das Formas e o Fluxo Contínuo da Vida na Existência Eterna
Um célebre ditado afirma que “nada se cria, tudo se transforma”. Contudo, uma reflexão mais profunda sugere que tudo, em essência, já está criado; nós apenas modificamos as formas, utilizando a matéria-prima já existente. Ao construirmos casas e prédios, por exemplo, simplesmente moldamos materiais que já são parte do mundo. As formas se renovam, mas a matéria subjacente – que encerra em si os mesmos princípios desde a origem de tudo – permanece imutável. Podemos teorizar sobre nossa condição indefinidamente, mas a verdade se impõe – nosso papel não é o de criadores, e sim o de transformadores. Estamos engajados em um processo contínuo de aprimoramento técnico, tecnológico, científico e, o que é fundamental, de nossa própria consciência. Nisso reside a verdadeira marcha do progresso humano – a capacidade de aprimorar e elevar o que já existe, desenvolvendo assim cada vez mais nosso grau de inteligência e nível de consciência.
A vida se renova em um movimento contínuo, impulsionada por uma inteligência infinita que permeia todos os elementos da natureza manifesta na Criação. É nesse influxo que nascemos e morremos, passando por transformações na consciência e desenvolvendo atributos cada vez mais avançados de inteligência, moralidade e ética em nossa jornada rumo à perfeição. Se os processos da vida ainda nos são dolorosos, a causa é certamente nossa dificuldade em compreendê-los e nossa relutância em nos entregarmos àquilo que é maior do que nós.
O Desejo de Mudar e o Preço da Transformação
Todos nós queremos mudanças transformadoras que melhorem nossa condição de vida. Isso parece um fato inquestionável, por ser um impulso que brota de nossa essência profunda – a centelha da consciência espiritual. A questão que se impõe, no entanto, é – estamos mesmo dispostos a nos desapegar de nossas velhas e queridas crenças e de nossos apegos emocionais para abraçar uma nova consciência?
Toda mudança mais profunda implica uma transformação interior de atitudes e pensamentos e, por vezes, até uma transmutação da consciência. Esse processo, por definição, requer a desconstrução – ou a “morte” – da forma antiga, abrindo assim o espaço interno necessário para o renascimento de um novo ser. É natural que tal desconstrução seja dolorosa, especialmente quando há fortes apegos e resistência em aceitar o fim de um ciclo. Aplicar esse princípio à nossa vida, sobretudo aos nossos modelos mentais e crenças fundamentais, exige, portanto, mais do que desejo – demanda coragem, determinação, paciência, aceitação e, acima de tudo, obediência ao impulso superior que vem de nossa mônada, nossa centelha divina.
Portanto, a jornada rumo à transformação que tanto desejamos não é uma simples busca por melhorias externas, mas um profundo e corajoso mergulho interior. Ela nos convida a honrar nosso anseio por evolução, aceitando que o novo “eu” só pode nascer do espaço deixado pelo antigo. É o exercício da paciência diante da dor do desapego e da obediência à nossa voz mais sábia que, por fim, transforma o medo em poder, e o desejo em uma realidade plenamente vivida e consciente.