Nosso Mundo da Vida Interior – Um Manancial de Potencialidades Criativas

O conceito de “mundo” é plural. Ele pode designar a totalidade física do planeta e do universo, o horizonte de nossa experiência, uma construção social e cultural, uma criação divina dotada de propósito ou simplesmente o produto de nossa própria mente. Existe um mundo subjetivo e abstrato do qual pouco conhecemos, mas que é o cenário de todas as nossas criações e de nossa experiência interior. É o mundo de nossa imaginação, de nossas atitudes, emoções, pensamentos, sentimentos, sensações e percepções – o nosso mundo da vida interior.

Não é exagero afirmar que nosso autoconhecimento é superficial. Apesar do vasto conteúdo literário existente sobre o tema, conhecemos muito pouco sobre o que verdadeiramente somos e sobre nossa realidade interior. Para nos conhecermos, é preciso mais do que estudo; é necessário mergulhar na profundidade de nosso ser. O verdadeiro conhecimento é o produto do estudo somado à experiência. Nessa perspectiva, nossa afirmação se mostra verdadeira, pois nossa experiência interior ainda é incipiente. O caminho do autoconhecimento se inicia pelo estudo, avança com o autoestudo e se aprofunda na auto-observação constante. A meditação é a ferramenta essencial para realizar esse mergulho na vida interior.

Nosso mundo da vida interior é o reino no qual herdamos os atributos do Criador de Tudo. Nele, ou reinamos e dominamos, ou somos dominados. É o domínio onde as verdadeiras riquezas são espirituais, e não materiais; um lugar onde somos os protagonistas ou permitimos que “invasores” entrem e nos controlem.

O Trabalho no Mundo da Vida Interior

Em sua primeira etapa, o autoconhecimento envolve estudo, autoestudo e auto-observação, evoluindo depois para o trabalho em si mesmo. Podemos afirmar, então, que o autoconhecimento é um processo contínuo de burilamento e aperfeiçoamento para alcançarmos nossa essência e manifestarmos nosso imenso – talvez infinito – potencial de inteligência e amor.

Nossa atenção está, em grande parte, voltada para o exterior – para a realidade que observamos, tocamos e sentimos com nossos sentidos físicos. É nesse mundo que trabalhamos, desenvolvemos nossos talentos e construímos patrimônios e legados. No entanto, raramente percebemos que toda criação no mundo exterior é uma manifestação do que primeiro criamos em nosso mundo interior. Teríamos um mundo melhor se cultivássemos mais amor internamente; não haveria tanto egoísmo, tanta ganância por riquezas, nem a necessidade de guerras para expandir poderes políticos. A realidade exterior, que experimentamos com dor, sofrimento e ainda pouco amor, é, portanto, um fruto direto do modo como vivemos por dentro – dos valores que cultivamos, das crenças limitadas pelo egocentrismo e da ideia de separatividade que ainda domina o pensamento humano.

Temos dificuldade em acreditar que somos equipados com um magnetismo pessoal que gera um campo de influência ao nosso redor, afetando as atitudes e os comportamentos dos outros, seja para o bem ou para o mal. Custa-nos aceitar que nossos pensamentos são emanações de nossa força interior, lançados na vastidão do espaço, com um poder de afetar pessoas e a própria atmosfera do planeta que não conseguimos medir.

Estamos o tempo todo nos relacionando em dimensões que desconhecemos, afetando uns aos outros com nossos pensamentos, emoções e magnetismo. Não percebemos que muito do mal que combatemos foi criado com a nossa participação, em consórcio com o malfeitor. Acusamos, mas nos esquecemos de perdoar e de reconhecer que, ao acusar e condenar, estamos nos sintonizando na mesma frequência do mal que combatemos.

Isso não significa que devemos ignorar as maldades do mundo. No entanto, nossa reflexão sobre elas deve visar à transmutação do campo mental que sustenta a manifestação do mal. Esse trabalho exige vigilância constante sobre nosso mundo interior. É a partir dessa transmutação que passaremos a vibrar na frequência do amor, e só então o mundo manifestado começará a mudar para melhor.

O que desejamos, então, para nós, para as gerações futuras e para o mundo? Nossas construções visam deixar um legado cultural, ético e luminoso para as próximas gerações, ou apenas atender às ambições de nosso egoísmo? Será que realmente vivemos para o mundo, ou o mundo existe apenas para nos servir? A resposta a essas perguntas revela uma verdade desconfortável – a humanidade está doente.  Muitas das doenças físicas que nos assolam são somatizações da mentalidade egoísta dominante, refletindo uma realidade que insistimos em negar. O materialismo é uma crença, ou ideologia, que gerou o egocentrismo – a visão distorcida do ser humano como o centro de todas as atenções e prioridades. Seus reflexos no comportamento são devastadores, e basta observar os exemplos mais simples em nosso cotidiano.

Um desses exemplos é a sobreposição dos direitos sobre os deveres. O equilíbrio entre eles se perde quando nos esquecemos de que o dever precede o direito. Por exemplo, antes de exigir um privilégio garantido por lei, deveríamos nos perguntar: “Eu realmente preciso disto neste momento, ou esta seria uma oportunidade para dar um bom exemplo?”. Refiro-me aos privilégios dos idosos e congêneres, que são um direito justo. Mas será que precisamos exercê-lo sempre e em todas as ocasiões? Ao entrar na fila comum, abrindo mão do privilégio, não estaríamos dando um bom exemplo aos mais jovens? Ou, ao contrário, quando exercemos nosso direito mesmo sem necessidade, não os estamos ensinando a serem egoístas também?

Somos Filhos e Herdeiros do Mundo

Deus é o Criador de tudo e criou o Cosmos; o Cosmos criou o Universo; o Universo criou o Mundo; e o Mundo nos criou. Somos, portanto, filhos e herdeiros do Mundo. Mas para sermos verdadeiros herdeiros, precisamos entender que somos os protagonistas dos eventos deste mundo. Se quisermos nos tornar grandes, precisamos crescer interiormente. Se quisermos ser livres, precisamos romper as correntes que nos aprisionam ao egocentrismo. Se quisermos ter paz, precisamos abandonar nossas resistências, parar de lutar e aceitar com resignação o plano Supremo. Se quisermos reinar no Mundo, devemos nos tornar seus herdeiros por merecimento.

Carregamos em nossos ombros o cesto dos frutos – doces ou amargos – do pomar que nós mesmos cultivamos. Os fantasmas que nos perseguem são as nossas próprias sombras. Se quisermos viver bem, precisamos criar bem.

Isso nos deixa com uma única e intransferível responsabilidade – governar nosso mundo interior. A mudança do mundo não começará com leis ou revoluções externas, mas com a silenciosa e determinada transformação de cada indivíduo. Assumir esse trabalho é o verdadeiro ato de servir e a única forma de nos tornarmos, por mérito, os herdeiros do Mundo.

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