O pior dentre os ignorantes é, sem dúvida, aquele que pensa que sabe e opina sobre tudo, mesmo não possuindo uma ideia própria sobre qualquer assunto. Esse indivíduo não estuda, não analisa e demonstra uma incapacidade notória de discernir, o que o torna, além de ignorante, detentor de uma expressão rasa de sua inteligência. Suas opiniões, que não são propriamente suas, mas resultam de um condicionamento e são uma reverberação do instinto coletivo, vêm sempre carregadas de uma emotividade densa, frequentemente incitativa ao fanatismo ou ódio. Ele se encontra preso em seu próprio enredo de palavras sem sentido, as quais, no entanto, reverberam nas multidões provocando estragos irreversíveis. Não por acaso, é dessa maneira que se manifesta e se torna um influenciador digital, um fenômeno tão em voga atualmente.
Quanto pesa, na consciência de cada indivíduo, uma opinião de quem se posiciona nesse cenário digital, ditando comportamentos e arrastando multidões? Qual é, de fato, o valor de suas palavras? O peso dessas opiniões pode ser determinante nas escolhas desses indivíduos inconscientes, tal como será o peso da responsabilidade para aquele que as proferiu. Quanto ao seu valor intrínseco, é nenhum, certamente. São tantas bobagens ditas sem agregar qualquer valor ou significado importante. São, de fato, palavras ao vento. O problema, contudo, é que o vento as carrega para longe como penas, sem controle e sem a possibilidade de serem recolhidas em caso de arrependimento. O estrago feito pela irresponsabilidade do palavrório inconsequente, portanto, só poderá ser reconciliado em uma nova oportunidade, muitas vezes dolorosa.
Alguém já disse que os tolos falam muito, gritam e fazem alaridos, enquanto aqueles que alcançaram a sabedoria se calam, pensam, refletem e escolhem com precisão as palavras com as quais irão expressar suas ideias. Mais do que isso, reconhecem que as ideias não são propriedades suas, não surgiram de si mesmos, mas foram acessadas do plano superior, o campo da consciência cósmica – a inteligência suprema, onde tudo existe à espera de ser percebido. O sábio não se vangloria de seus feitos, apenas expõe o que pensa e recusa-se a assinar suas opiniões com o carimbo definitivo da verdade, pois sabe que amanhã tudo pode mudar. Ele está em constante evolução, desenrolando-se gradualmente à medida que a sabedoria floresce em sua essência.
O tolo e o sábio são portadores dos mesmos atributos; em essência, não se diferenciam, mas cada um se encontra em um momento distinto e singular no plano evolutivo. Enquanto o tolo dorme e sonha, o sábio é um andarilho sem descanso na senda do autoconhecimento, buscando cada vez mais a si mesmo sem se deixar levar pelo brilho das luzes das distrações que os tolos acendem e agitam em sua noite de ignorância. Ele sabe que o caminho é para dentro e não para fora; que tudo o que se busca já reside na consciência, a qual só precisa ser desenrolada dos cobertores do ego que a sufocam. O sábio já encontrou o caminho, enquanto o tolo ainda vaga distraído por uma paisagem mórbida, acreditando-se possuir o conhecimento da verdade. Tais crenças não passam de fundamentalismos e fanatismos, consequências diretas de sua cegueira interior.
O caminho interior não requer mais que um olhar atento aos reflexos da mente, ou seja, os pensamentos, que são as setas disparadas a partir do centro ordenador do ser. Mas quem é o disparador? Quem é que pensa – o pensador autêntico ou aquele que é “pensado” pelo condicionamento? O pensamento é a matéria mais sutil de nossa constituição, crucial na construção dos valores que norteiam nossa existência. É por meio dele que organizamos a ideia e lhe damos forma. Uma ideia bem elaborada requer a junção do material mais nobre e da melhor qualidade para formar sua imagem, a forma. O Plano é – ideia, pensamento, forma e manifestação. Tudo isso exige uma coerência inefável, que esteja acima dos condicionamentos, mas que, ao mesmo tempo, se sujeite à sua própria relatividade.
A ideia é o que dá origem a tudo. Ela é intuída de um plano que, em essência, desconhecemos. Dizemos, no entanto, ser o “plano das ideias”, o campo quântico, ou a consciência cósmica; há tantos entendimentos, e todos estão corretos, pois todos expressam a mesma realidade. O pensamento é a matéria sutil e primordial que a consciência utiliza para organizar a ideia. Na etapa seguinte desse processo criativo, agrega-se a emoção, uma matéria mais densa que o pensamento, para moldar a forma imaginada da ideia. Nesse momento, a ideia já tem forma e passa a existir com vida própria no plano das ideias como uma forma-pensamento. Na última etapa, a forma-pensamento gerada pode ser manifestada no plano material, ou permanecer vagando pelo plano das ideias até que alguém, em algum lugar e momento, se sintonize com ela e a traga para o plano da manifestação.
Nós não a criamos, apenas a ordenamos conforme o plano de nossa consciência – ou seja, de acordo com o grau de inteligência, sabedoria e amor que já desenvolvemos. Em outras palavras, não somos criadores, somos apenas transformadores – organizamos os elementos existentes em uma ordem que espelha os nossos valores internos. Portanto, tudo o que ordenamos como forma-pensamento torna-se uma entidade com vida própria, que pode tanto ser nossa aliada quanto inimiga, tanto gerar paz quanto discórdia, e nós nos tornamos responsáveis por seus efeitos no mundo.
Enquanto o tolo não sabe o que faz, o sábio comanda com discernimento as suas ações e mantém a paz em meio a toda a turbulência que os tolos causam no mundo; enquanto um fala e não escuta, o outro escuta sua voz interior antes mesmo de proferir uma única palavra e fala apenas o necessário.


