Os ciclos movimentam os cenários da vida e moldam as oportunidades, em uma constante renovação rumo à perfeição. É nesse processo de burilamento, proporcionado pelos atritos da existência, que encontramos as arestas nas quais forjamos nosso aperfeiçoamento humano, moral, ético, intelectual e espiritual. Ora estamos por cima, ora por baixo na grande roda do destino, mas sempre sentindo uma forte atração pelo seu centro, ainda que relutantes em nos resignarmos plenamente a ele.
Ainda somos propensos a acreditar em sorte ou azar – na roda da fortuna que gira, ora favorecendo a prosperidade material, ora trazendo o azar como suposta punição do carma. Contudo, nem a sorte nem o azar são determinantes, mas sim as escolhas que fazemos quando estamos ‘por cima’ ou ‘por baixo’ na ‘roda da consciência’, as quais efetivamente traçam nosso destino. ‘Subir’ significa elevar o nível da consciência ao plano mais sutil da mente espiritual, enquanto ‘descemos’ pela roda do destino ao atuarmos a partir de uma consciência emocional mais primária, com nossos rompantes de reatividade impulsiva ou violenta. Portanto, o que de fato rege não é a sorte ou o azar, mas o princípio de ação e reação.
O mistério da vida se revelará àquele que tiver a coragem de mergulhar profundamente no âmago do seu coração. Ali, a mente funde pensamento e sentimento e, dessa união, emerge a radiação da consciência profunda – até então mergulhada no esquecimento – despertando sensações que remetem a experiências passadas. O futuro não pode ser vislumbrado sem esse mergulho no passado, que sincroniza todas as ‘vidas’ em uma única existência na eternidade. Tal experiência, contudo, poderá soar como devaneio ou loucura, pois escapa a todos os preceitos, ideias, crenças e dogmas aos quais nos apegamos, permanecendo atados por concepções limitantes, como a crença de que a simples adesão a uma religião nos garantiria a salvação. Ainda não percebemos que todo atraso evolutivo é, em si, o mal, e que somente o bem pode nos libertar para sermos o que realmente somos – pontos de luz no cosmos.
Essa coragem, nascida da profunda introspecção, pode ser encarada como um testamento que antecede a fase decisiva no caminho da transformação; é uma passagem para uma nova consciência e para a aceitação dos ciclos da vida. É nas alternâncias desses ciclos que o espírito se depura e a alma se enriquece com as experiências de superação e aprendizado. A Roda do Destino gira implacavelmente, incessante em seu movimento, alternando ciclos, sucedendo encarnações e impulsionando, de forma contínua, a evolução em todas as formas de manifestação da existência. Esse movimento perpétuo nos convida a refletir sobre as inevitáveis transformações que moldam e direcionam nossa jornada espiritual.
O Alicerce da Verdadeira Ascensão Espiritual Pelo Autoconhecimento
Compreendida a natureza da Roda do Destino e a necessidade da coragem, aprofundemo-nos nos alicerces da ascensão. Aquele que busca alcançar os planos mais elevados da espiritualização sem trilhar as etapas que verdadeiramente moldam esse caminho, negando-se a encarar a própria consciência inferior, corre o sério risco de que sua luta pela ascensão não passe de uma ilusão, um reflexo de sua infantilidade espiritual. O caminho autêntico deve ser percorrido nas alternâncias de seus ciclos, para que experimentemos, através dos contrastes entre bem e mal (com todas as suas consequências), e entre a dor e o prazer, aquilo que impulsiona nossas escolhas. Assim, ao aprendermos com a dor e buscarmos a verdadeira felicidade, direcionamos nosso progresso. Qualquer tentativa de pular etapas, buscando atalhos, pode, na verdade, retardar em vez de acelerar a evolução espiritual.
Experiências de expansão da consciência ou estados alterados – seja por meditação profunda ou pelo uso de substâncias – podem, momentaneamente, abrir uma fresta pela qual vislumbramos o novo estado consciencial que nos aguarda. No entanto, se ao invés de integrarmos essas vivências, negarmos as sombras do nosso passado e nos apegarmos a tais picos de percepção, apenas nos distanciaremos ainda mais da iluminação plena. As sombras, então, nos puxarão constantemente para baixo, no incessante jogo de alternâncias da roda do destino. É preciso, portanto, “subir” para ter uma visão mais ampla, mas é igualmente imperioso “descer” para integrar e corrigir, à luz dessa nova perspectiva, aquilo que, nos planos inferiores, ainda requer transmutação. Somente ao aliviarmos essa carga é que poderemos nos firmar sustentavelmente nesse plano superior da consciência espiritual.
Lembremo-nos de que ainda impera em nós uma consciência instintiva, primordialmente animal, que necessita ser conscientemente humanizada antes de poder ser verdadeiramente espiritualizada. O caminho da transformação não é uma fuga do passado, mas sim um processo de amadurecimento, reunificação e cura daquilo que foi fragmentado por crenças limitantes, medo, culpa e remorso. Contudo, ainda que seja desafiador encarar esse passado repleto de sombras, a sua iluminação consciente é condição essencial para alcançar os planos da plena realização espiritual.
A Arquitetura da Jornada Espiritual Terrena no Autoconhecimento
Finalmente, para que essa jornada de transformação e ascensão se concretize, é preciso compreender a arquitetura interna do ser. Nossa natureza animal nos ancora à terra e, sobre essa base, nos elevamos para alcançar o “céu” da vida na dimensão da consciência espiritual. Em outras palavras, o ser humano cavalga sua natureza animal, sendo guiado pelo espírito em seu caminho de transformação. Nossos três centros – pensamento, sentimento e movimento – precisam estar alinhados para atuar em plena sintonia; assim, a harmonia do ser pavimenta seu caminho de paz na jornada espiritual. Cada centro representa um aspecto de nossa natureza integral ou, se preferirmos, podemos entendê-los como correspondentes às nossas três naturezas – animal, humana e espiritual. Partindo do animal instintivo e emocional, humanizamo-nos pelo sentimento e espiritualizamo-nos através do pensamento elevado à mente espiritual, desenvolvendo a intuição e o intelecto superior. Podemos, dessa forma, compreender que a verdadeira jornada espiritual no plano terreno se assenta sobre essas bases ou premissas fundamentais.
Conclusão
Portanto, os ciclos da vida na Roda do Destino não são meros acasos, mas um palco dinâmico para a evolução consciente. A jornada exige mais do que a simples passagem pelo tempo; demanda coragem para o mergulho interior, sabedoria para discernir entre ilusão e progresso autêntico, e a disciplina para integrar todas as facetas do nosso ser. Ao aceitarmos os altos e baixos como oportunidades de burilamento, ao humanizarmos nossa base instintiva e ao alinharmos nossos centros sob a égide do espírito, transformamos a Roda do Destino de uma força aparentemente cega em uma espiral ascendente de aprendizado e realização. É nesse entrelaçamento entre o cíclico e o eterno, entre o terreno e o espiritual, que encontramos o verdadeiro sentido de nossa existência e caminhamos, passo a passo, em direção à plenitude da consciência.