A Desilusão na Jornada de Autoconhecimento Pelos Caminhos do Tarô

É importante destacar que este artigo não tem a intenção de ser um estudo científico ou psicológico, nem pretende abordar de forma exaustiva ou definitiva o tema proposto para esta fase da jornada. Seu propósito é servir como um guia para orientar o conteúdo que será desenvolvido durante o encontro ao vivo da sexta edição da jornada online, em 2024.

No castelo das vaidades, erguido sobre o instável terreno das paixões, instalou-se o ego, criando para si um centro em torno do qual gravitam seus mais fiéis companheiros: o orgulho, a soberba e o egoísmo. Absorvido em suas próprias prioridades, o ser humano fez de si mesmo o centro de tudo, tornando-se egocêntrico e distanciando-se da fraternidade universal. Tamanha foi a ilusão gerada por esse egocentrismo que, por certo tempo, chegamos a acreditar que nosso planeta era o único mundo habitado no Universo.

A desilusão é a desconstrução de uma mentira outrora aceita como verdade. Representa o desmoronamento do castelo da ilusão. Ela se manifesta somente para aqueles que se encontram em estado de ilusão, seja por força de seus desejos, paixões, ambições ou ganância, ou ainda com quem permite ser iludido por outro. No cerne dessa questão, contudo, reside sempre o ego e suas vaidades.

Na Estação 17 da Jornada de Autoconhecimento pelos Caminhos do Tarô, prosseguimos com os estudos e reflexões sobre os Arcanos Maiores, interpretados como um roteiro para a regeneração da consciência, que se encontra decaída e aprisionada na matéria. Nesta etapa, abordamos o Arcano 16, tradicionalmente representado como “A Torre”, o qual simboliza as ilusões humanas que desviam a consciência do bem e desvirtuam o indivíduo pela separatividade e pelo egocentrismo. Esta fase crucial, que simboliza o trabalho efetivo de regeneração da consciência ao longo da jornada, abrange os seguintes Arcanos: A Força Interior (11), A Resignação (12), A Imortalidade (13), A Integração (14), A Paixão (15), A Desilusão (16), A Esperança (17), O Crepúsculo (18) e A Completude (19).

O Arcano 16 é tradicionalmente denominado “A Torre”. Mas qual torre? Qual o seu verdadeiro significado? Essa torre, na realidade, representa o castelo de nossas ilusões, da soberba, do orgulho, da vaidade e do egocentrismo. Por essa razão, em nossos estudos e reflexões “Pelos Caminhos do Tarô”, optamos por nomeá-lo “A Desilusão”. Ele simboliza o momento em que a consciência é impactada pelas consequências de nossas atitudes egóicas, que tanto mal causam a nós mesmos e aos outros. “A Desilusão” marca o despertar da humildade, o reconhecimento de que tudo o que é transitório é também ilusório, e que somente aquilo que permanece pela eternidade é real.

“Humildade não é servidão. É, sobretudo, independência, liberdade interior que nasce das profundezas do Espírito, apoiando-lhe a permanente renovação para o bem. Cultivá-la é avançar para a frente sem prender-se, é projetar o melhor de si mesmo sobre os caminhos do mundo, é olvidar todo o mal e recomeçar alegremente a tarefa do amor, cada dia.” – Emmanuel, por Chico Xavier, no livro Pensamento e Vida.

Talvez a primeira grande ilusão do ser humano seja a identificação com sua personalidade. Essa ilusão do ego, essa parte da personalidade que se autoprojeta e concentra as ambições, dificulta a dissociação do indivíduo de sua persona, impedindo-o de enxergá-la como um veículo temporário durante a encarnação. O que permanece pela existência afora é o Espírito, que reside em seu interior. Essa ideia equivocada de si mesmo permeia a mente humana até que o despertar para o autoconhecimento aconteça. A consciência de si como personalidade, embora não deva ser descartada, representa apenas a identificação com o veículo. Nesse estágio, o ser humano é consciente de si, mas de forma superficial. É preciso alcançar a autoconsciência, que desperta e observa de dentro para fora, a partir do ser verdadeiro que comanda a personalidade. Este ser, livre do automatismo dos condicionamentos, age conscientemente em cada momento. Essa é, portanto, a primeira desilusão necessária no caminho do autoconhecimento. O caminho se inicia com o conhecimento de si como personalidade, através do autoestudo e da auto-observação, e progride com o trabalho interno, de dentro para fora.

Outras ilusões comuns são as identificações com títulos, honrarias, profissão, status, poder, posses e prestígio. A sociedade, por meio de seus “ditadores de comportamento”, impõe “carimbos” que são amplamente utilizados pela mídia e pela imprensa, tais como: trabalhador, empresário, consumidor, aposentado, idoso, entre outros. As pessoas acabam aceitando e se identificando com essas etiquetas. É comum que a pergunta “quem é você?” seja respondida com base nessas identificações: nome, profissão, seguida de uma descrição de hábitos, gostos e preferências, além de queixas e lamúrias corriqueiras. Essa torre de ilusões é difícil de ser destruída, requerendo muito trabalho, disciplina e obediência aos impulsos internos da consciência.

O ser humano se vê envolvido em inúmeras ilusões, algumas de caráter delicado e íntimo, como as relacionadas à religião, à ciência e às ideologias. No tocante à religião, a ilusão não reside em ser religioso, mas em acreditar em dogmas instituídos pelas igrejas para manter a fidelidade de seus seguidores, e em sacerdotes como intermediários de Deus para a salvação dos homens. A desilusão, portanto, não deve se voltar contra a religiosidade e a busca espiritual, mas contra o seu aspecto externo e a cegueira de uma fé irracional e emotiva. A ciência também apresenta suas ilusões, pois muitas mentes científicas ainda se prendem a limitações que impedem a visão do que está além de seu conhecimento. Já as ideologias são ideias sugeridas ou impostas por “ditadores de comportamento” para manipular e controlar os indivíduos. Ao se identificarem com elas, as pessoas anulam sua individualidade e passam a se comportar coletivamente, de maneira geralmente irracional e apaixonada. Assim como a religião, com seus dogmas, a ideologia também gera uma cegueira de consciência. Superar essas ilusões é um desafio que requer esforço e persistência.

Nada pode ser pior para o ser humano do que a estagnação em sua evolução, provocada pela cristalização da mente nessas e em tantas outras ilusões. Os reveses da desilusão, embora por vezes dolorosos, são uma bênção para aqueles que se encontravam estagnados. A ilusão é uma percepção distorcida da realidade, na qual algo é interpretado de maneira diferente do que realmente é. Ela pode surgir de expectativas, desejos, crenças ou emoções que influenciam a forma como vemos o mundo. Em essência, a ilusão é um engano, consciente ou inconsciente, que se cria quando nos permitimos acreditar em algo que não corresponde à verdade objetiva.

A ilusão pode se manifestar de diversas formas:

Ilusões emocionais – Ocorrem quando idealizamos pessoas, situações ou relacionamentos, atribuindo-lhes qualidades ou significados irreais ou inexistentes.

Ilusões cognitivas – Acontecem quando interpretamos mal informações ou dados, levando a conclusões equivocadas.

Ilusões sensoriais – Surgem quando nos deixamos enganar pelos nossos sentidos, como em ilusões de ótica ou auditivas.

Ilusões sociais ou culturais – Manifestam-se quando aceitamos crenças coletivas ou normas sem questionar sua validade.

Em última análise, a ilusão está ligada à nossa subjetividade e à forma como projetamos nossas esperanças, medos e desejos nos outros e no mundo. Ela pode ser reconfortante, mas levará fatalmente à desilusão quando a realidade se impõe e revela a verdade por trás da fantasia.

O Arcano 16 nos adverte sobre outra forma de ilusão: o perigo de nos acomodarmos com as glórias passadas e esquecermos que nossos talentos devem ser continuamente aprimorados e aplicados na construção de nosso ser e na melhoria da sociedade, do mundo e da condição humana. Aquele que se encastela em seu reduto de glórias, sonhos e ilusões será convidado a se expor no mundo real, pelo amor ou pela dor. A vida se encarregará de executar o trabalho que nos recusamos a fazer, e no caso de nossas ilusões, isso geralmente ocorre por meio de um “raio destruidor” que causa muita dor, seja física, mental ou emocional.

A maior de todas as ilusões, no entanto, é o egocentrismo, que leva à separatividade.

A desilusão, embora por vezes dolorosa, abre caminho para a felicidade. Ninguém pode ser feliz estando iludido, recusando-se a conhecer a verdade, aprisionado em seu egocentrismo e sentindo-se separado de todos e do todo. A felicidade só pode ser encontrada dentro de nós. É um estado de paz e reverência que só alcançamos quando purificamos nosso coração. Ao longo da vida, podemos vivenciar breves momentos que nos oferecem pequenas amostras da verdadeira felicidade – momentos que surgem quando fazemos o bem de forma genuína e desinteressada, movidos por amor, compaixão e generosidade. Essa paz, essência da felicidade, nos fortalece diante das dificuldades da vida, permitindo que as enfrentemos sem sermos abalados emocionalmente.

Em suma, a desilusão, representada pelo Arcano 16 do Tarô, é um processo essencial na jornada de autoconhecimento. Ela surge como um convite à humildade, ao despertar da consciência e ao reconhecimento das ilusões que nos afastam da verdadeira essência espiritual. Ao desmoronar o castelo das vaidades, do orgulho e do egocentrismo, a desilusão nos liberta das amarras da separatividade e nos conduz à integração com o todo. Embora dolorosa, ela é uma bênção, pois nos permite transcender as identificações superficiais com a personalidade, os títulos, as crenças e as ideologias, abrindo caminho para a verdadeira felicidade, que reside na paz interior e no amor desinteressado. A desilusão, portanto, não é um fim, mas um recomeço, um passo crucial na regeneração da consciência e na busca pela completude espiritual. Essa jornada em direção à autoconsciência e à felicidade autêntica exige coragem para confrontar nossas ilusões, mesmo que o processo seja doloroso. Ao desconstruir as falsas identidades e crenças que nos aprisionam, abrimos espaço para a verdade e para a conexão genuína com nós mesmos e com o mundo. A felicidade, por conseguinte, não é um destino a ser alcançado, mas sim um estado interior que se cultiva através da purificação do coração e da prática do bem.

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