A Paixão na Jornada de Autoconhecimento Pelos Caminhos do Tarô

É importante destacar que este artigo não tem a intenção de ser um estudo científico ou psicológico, nem pretende abordar de forma exaustiva ou definitiva o tema proposto para esta fase da jornada. Seu propósito é servir como um guia para orientar o conteúdo que será desenvolvido durante o encontro ao vivo da sexta edição da jornada online, em 2024.

Quando nascemos, nos agarramos à vida como se ela fosse uma tábua de salvação. Depois, aprendemos sobre os valores das coisas do mundo e desenvolvemos as paixões, das quais surgiram os apegos, ainda mais enraizados na mente material. Fomos dominados pelo instinto de conservação e sobrevivência, pelo desejo de posse, poder e prestígio, desde o momento em que fomos corrompidos pela sociedade, incluindo a família.

Atraído pelo desejo, elemento regulador da natureza inferior, o ser humano submete-se a viver no plano mais denso da vida. Arrastado pelas paixões, o indivíduo cai na viciosidade e se entrega aos prazeres fugazes que o aprisionam em um campo tenebroso, trazendo tristes repercussões para sua existência.

Muitas vezes, seu comprometimento com esses algozes internos o torna um escravo quase incapaz de se libertar, e sua regeneração transforma-se em uma tarefa difícil, exigindo trabalho árduo e disciplina rigorosa por um longo período. Confrontado consigo mesmo pelo sofrimento, busca auxílio para sua regeneração e enfrenta seus “daimons” (demônios), resignando-se à compreensão de que o “diabo” nada mais é do que a exteriorização de seus próprios inimigos internos em conflito.

Na Estação 16 da Jornada de Autoconhecimento pelos Caminhos do Tarô, prosseguimos com os estudos e reflexões sobre os Arcanos Maiores, interpretados como um roteiro para a regeneração da consciência, que se encontra decaída e aprisionada na matéria. Nesta etapa, abordamos o Arcano 15, tradicionalmente representado como “O Diabo”, o qual simboliza as paixões humanas que desviam a consciência do bem e desvirtuam o indivíduo pela viciosidade. Essa fase crucial, que simboliza o trabalho efetivo de regeneração da consciência ao longo da jornada, abrange os seguintes Arcanos: A Força Interior (11), A Resignação (12), A Imortalidade (13), A Integração (14), A Paixão (15), A Desilusão (16), A Esperança (17), O Crepúsculo (18) e A Completude (19).

O Arcano 15 foi denominado “O Diabo”. Mas quem é o diabo? Qual é o seu significado? Na verdade, o diabo é a representação do adversário do bem, e esse é o seu significado. Ele se manifesta dentro de nós toda vez que agimos de forma contrária às leis de amor, justiça e caridade. Em outras palavras, sempre que geramos desarmonias na natureza, de maneira geral, estamos agindo de forma “satanizada”, tornando-nos adversários do bem. Todo mal, por sua vez, origina-se de um centro de desejos do ego, manifestando-se na forma de alguma paixão. Por isso, em nossos estudos e reflexões Pelos Caminhos do Tarô, optamos por nomear esse arcano como “A Paixão“.

O Arcano 15, apesar de seu nome evocar um aspecto tenebroso, de acordo com as crendices populares que emergem da ignorância, não representa o mal em si. Ele cria a ambientação para que o indivíduo faça sua escolha, exercendo o livre-arbítrio – pode ser aquilo que induz ao mal através do bem, ou ao bem através do mal. A escolha e a ação são sempre do próprio indivíduo, assim como a responsabilidade, que não pode nem deve ser atribuída ao arcano ou transferida a uma personificação exteriorizada do diabo. 

O arcano nos adverte, ainda, sobre o risco de se encantar com as magias como meios para apressar os processos de desenvolvimento de certas habilidades psíquicas, com o objetivo de alcançar a iluminação espiritual mais depressa. Geralmente, isso causa desvios e distorções no caminho espiritual. A iluminação espiritual, ou da consciência, é algo que ocorre quando o indivíduo consegue abrir espaço para que a centelha divina se manifeste. Esse é o verdadeiro sentido da iluminação espiritual, pois essa centelha é luz. Portanto, todo o trabalho deve ser direcionado à remoção dos obstáculos que o ego criou em torno da centelha, e a iluminação simplesmente acontecerá no momento propício. A remoção desses obstáculos, entretanto, exige, além de muito trabalho interno, disciplina e obediência.

Aos buscadores, e principalmente àqueles que já são iniciados no caminho espiritual, ele representa um grande perigo, capaz de levar ao desvio das virtudes e a uma queda devastadora. O risco reside em desenvolver uma paixão pela espiritualidade, que, geralmente, torna-se quase um senso comum entre aqueles que se deixam conduzir por certos tipos de gurus cujo ego é o centro de seu brilho e vaidades. Fica o aviso para aqueles que buscam sem respeitar o tempo do amadurecimento – sua força se revela em tentações e atrações, acompanhadas de promessas de facilidades no caminho por meio de rituais de magia, seja ela branca ou negra. A verdadeira busca deve ser por si mesmo, e não por resultados. O risco de retrocesso moral é enorme para aqueles que se deixam inflar por uma espiritualidade egocêntrica. Há também aqueles que recorrem à magia, especificamente à chamada magia negra, para finalidades obscuras, praticando o mal com o objetivo de obter poder, posse ou prestígio.

Por outro lado, o Arcano 15 nos convida a refletir sobre os círculos viciosos em que frequentemente nos aprisionamos, lembrando-nos de que é possível transformá-los em ciclos virtuosos, caso estejamos dispostos a usar a força da paixão como uma aliada para a mudança. Este arcano simboliza uma energia potente e instintiva que, se bem controlada, pode se converter em uma poderosa ferramenta de superação e crescimento.

A sombra, por sua vez, é apenas uma projeção do objeto que bloqueia a luz. Isso nos ensina que as partes mais obscuras de nossa psique não são um mal em si, mas um reflexo de algo que ainda precisa ser compreendido, aceito e integrado. Somos desafiados a enfrentar nossos medos, desejos e compulsões, não para negá-los, mas para transformá-los em consciência e libertação.

É preciso ter muito cuidado, pois este é o Arcano que nos confronta com nosso lado sombrio e ameaçador. Ele nos alerta sobre os perigos de não reconhecermos e enfrentarmos os aspectos mais ocultos e instintivos de nossa natureza. Se não formos capazes de percebê-los e compreendê-los a tempo, corremos o risco de sermos atraídos para suas profundezas, aprisionando-nos em ciclos de dependência, ilusão e autossabotagem. Ignorar a sombra pode nos tornar vulneráveis, permitindo que ela nos domine de forma inconsciente.

No entanto, ao trazermos luz e consciência para essas partes obscuras, ganhamos a oportunidade de transformá-las, fortalecendo nossa integridade e equilíbrio interior. É preciso embrenhar-se com coragem pelos labirintos internos, confiando na possibilidade de emergir mais sábios e livres.

Concluímos, então, que o Arcano 15, “A Paixão”, não deve ser temido, mas compreendido em sua profundidade e simbolismo. Ele nos desafia a enfrentar e integrar os aspectos mais sombrios de nossa natureza, oferecendo a oportunidade de transformar vícios em virtudes e desequilíbrios em força interior. Esse trabalho de regeneração é essencial para avançarmos na Jornada de Autoconhecimento, permitindo-nos utilizar a poderosa energia da paixão como combustível para o crescimento espiritual e a iluminação da consciência.

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